Ameaça da Garantia Pública à Regra da Taxa de Esforço no Crédito à Habitação

preocupação com o financiamento e a acessibilidade da habitação

A recente introdução da garantia pública para permitir a obtenção de 100% do crédito à habitação tem gerado um debate significativo no setor imobiliário e financeiro em Portugal. Esta medida, destinada a facilitar o acesso à compra de casa para jovens entre os 18 e os 35 anos, pode, no entanto, comprometer a regra da taxa de esforço, um critério essencial para a concessão de crédito responsável.

O que é a Garantia Pública?

A garantia pública é uma iniciativa do governo português que visa ajudar os jovens a adquirir a sua primeira habitação, cobrindo até 100% do valor do imóvel. Esta medida é especialmente relevante para aqueles que não possuem poupanças suficientes para a entrada inicial, que geralmente corresponde a 10% a 15% do valor total do imóvel. Com esta garantia, o Estado cobre até 15% do valor do imóvel, permitindo que os bancos financiem a totalidade do preço de compra.

Benefícios da Medida

A principal vantagem desta medida é a possibilidade de jovens sem poupanças conseguirem adquirir uma casa. Isto é particularmente importante num contexto de preços elevados no mercado imobiliário, onde a entrada inicial pode ser um obstáculo intransponível para muitos. Além disso, a medida inclui isenções totais ou parciais do Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT) e do Imposto do Selo, aliviando ainda mais o encargo financeiro dos jovens compradores.

Ameaça à Regra da Taxa de Esforço

No entanto, a garantia pública levanta preocupações significativas em relação à regra da taxa de esforço. Esta regra, estabelecida pelo Banco de Portugal, determina que o rácio entre o montante total das prestações mensais de todos os empréstimos do cliente e o seu rendimento mensal líquido não deve ultrapassar os 50%. A lógica por trás desta regra é garantir que os mutuários não se endividem além da sua capacidade de pagamento, evitando assim o risco de incumprimento.

Com a possibilidade de financiar 100% do valor do imóvel, as prestações mensais dos empréstimos serão inevitavelmente mais altas. Isto significa que os jovens que beneficiam desta medida terão de ter rendimentos significativamente mais elevados para cumprir a regra da taxa de esforço. Segundo Nuno Rico, economista da Deco, esta situação pode limitar o alcance da garantia pública, uma vez que muitos jovens não terão rendimentos suficientes para suportar as prestações mais elevadas.

Impacto no Mercado Imobiliário

A introdução da garantia pública pode ter um impacto limitado no mercado imobiliário, especialmente em áreas metropolitanas como Lisboa e Porto, onde os preços das casas são particularmente elevados. Mesmo com a garantia pública, muitos jovens continuarão a enfrentar dificuldades para adquirir uma casa nestas regiões devido aos altos valores das prestações mensais.

Além disso, a medida pode levar a um aumento da procura por imóveis, o que, por sua vez, pode pressionar ainda mais os preços para cima. Paulo Caiado, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), destaca a importância de trazer para o mercado casas a preços significativamente mais baixos para que a medida tenha um impacto mais abrangente e positivo.

Considerações Finais

Embora a garantia pública seja uma iniciativa louvável para ajudar os jovens a adquirir a sua primeira casa, é crucial que seja implementada de forma a não comprometer a estabilidade financeira dos mutuários. A regra da taxa de esforço é uma salvaguarda importante para garantir que os empréstimos são concedidos de forma responsável. Portanto, é essencial encontrar um equilíbrio que permita aos jovens beneficiar desta medida sem se endividarem excessivamente.

Fontes:

Idealista: Garantia pública pode ameaçar regra da taxa de esforço
Novo Semanário: Garantia pública para obter 100% do crédito ameaça critério da taxa de esforço

 


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